Estava conversando com uma amiga e lembrando de alguns sonhos que tínhamos, e que, por algum motivo, deixamos de lado. Talvez um pouco por medo de enfrentar o mundo lá fora, ou talvez por não ser o momento. Então lembrei de quando, ha mais ou menos 10 anos, eu costumava sonhar em ir em um intercambio para o Canadá. Eu estudava cursinhos de ingles sempre em paralelo com a primeira faculdade que estava fazendo pra agradar a minha mãe (isso e um longa historia), mas desde aquele tempo, e depois das escolhas de não continuar aquela faculdade e outras coisas que saíram dos trilhos, algumas também se direcionaram para outros caminhos. Mas de alguma forma o sonho do intercâmbio ainda continuava lá. Com a escolha do curso de Letras na outra faculdade também, que em parte sempre foi por causa do inglês.
Eu tive outras oportunidades com o inglês, até recebi uma Americana como roommate na outra cidade que fui morar para fazer a faculdade de Letras.
Eu cheguei a tirar meu passaporte para um planejamento de intercambio voluntario pro Mexico numa tentativa de ser por causa do inglês, por mais que fosse no Mexico, era um programa pela AIESEC em que seria voluntaria como professora de ingles por um mês nas ferias. Então, esses planos de 2018, apesar de ter tirado o passaporte e pago uma taxa para a ong, acabei não indo por insegurança também. Embora o Mexico nunca tenha sido mesmo o meu sonho, acho que eu queria ter algo para falar que fui para um lugar que estaria mais perto do meu sonho de passar um tempo em um pais de lingua inglesa que eu admirava.
Dez anos depois, eu nunca fui pra esse tão sonhado intercâmbio, embora vez ou outra eu revivesse esse sonho em pessoas que conheci no decorrer desses anos. Nesses três anos que se passaram eu conheci uma pessoa com quem mantive um relacionamento a distancia. Ele não era brasileiro, morava na Europa e eu sempre com aquela vontade de achar do outro lado do mundo aquelas experiências e pessoas que me completassem. Eu e ele conversávamos em inglês, embora a linguagem dele fosse mais parecida com o português. De certa forma, melhorei na aprendizagem de uma outra lingua (o francês) por causa de alguém por quem estava apaixonada, pois fazíamos planos de estarmos juntos futuramente, o que não veio a acontecer também.
Mas graças a essa experiência, também compreendi que nada e em vão, tudo de certa forma é aprendizado ou lição. Eu penso que, mesmo que não tenha dado certo, eu sempre ganho algo no final. Essa melhoria em um outro idioma também foi algo que ganhei e que nunca vai ser tirado de mim, e que pessoas vêm e vão das nossas vidas.
Eu ainda penso em reunir coragem para realizar esse sonho um dia. Sabe aquela coisa das Bucket List? Mesmo que esses anos depois da pandemia, eu tenha ficado mais presa em casa e em mim mesma, de certa forma, sem muita coragem para pensar se enfrentaria cruzar o mundo e viver por um tempo naquele lugar que planejaria em ir. Mas eu sei também que existe um lado meu que assim como sou sonhadora, também sou muito determinada e consigo coisas que pareciam impossíveis, se realmente planejo e começo a fazer de tudo para conseguir aquilo, como foi com a faculdade de Letras antes, e com meus livros agora.
Com os relacionamentos não posso dizer o mesmo, pois também aprendi que não posso controlar sozinha sonhos e planos que não dependem só de mim, no caso de planos que se faz com outra pessoa, se ela não caminha para o mesmo rumo, se não busca aquilo que você quer buscar, se um faz de um jeito e outro quer fazer apenas do jeito dele, então não tem como funcionar.
Posso dizer que resgatei o sonho do intercambio nesses dois anos atrás, depois de ter conhecido a pessoa que achava que ficaria por muito tempo ao lado, porque antes disso eu tinha estado tão depressiva depois da pandemia e de perder meu avô, que achei que meus sonhos tinham morrido e que não seria capaz de lutar mais por nenhum deles. Mas comecei a lutar de alguma forma quando trabalhei novamente nos três últimos meses de 2021 e tentava recuperar um pouco de mim. Depois conheci ele em 2022 no primeiro mês do ano, conversamos em um aplicativo de idiomas, e como conversamos dos planos que eu tinha do intercâmbio, foi uma forma de ele me manter por pensar que era um dos meus planos estar em um pais perto de onde ele também estava.
Mas isso também foi, depois, o motivo de muitas brigas por ele querer que eu mudasse os planos do intercâmbio como eu queria ir pra ficar em um lugar de estudantes e ele queria por tudo que eu fosse pra morar com ele. Eu queria morar com ele, sim, porque estava muito iludida e apaixonada, mas uma parte de mim era temerosa e agia pela razão, então sabia que era melhor eu ir pra estudar como sempre queria. Que o fato de que eu estaria perto dele seria uma grande coisa, já que eu tinha começado a planejar ir para aquele pais e estudar aquela linguagem em parte por causa dele.
E agora eu volto ao início de tudo, e penso que em primeiro lugar, se eu tivesse o foco naquilo que eu queria, naquela experiência, nos estudos, na cultura, tudo fluiria. Mas o fato de estar envolvida com alguém sentimentalmente, alguém cujo as emoções eram tão bagunçadas quanto as minhas próprias, eu seria certamente facilmente desestimulada daquilo que eu queria antes, já que deixaria os sentimentos, o amor à frente daquele sonho, que em primeiro lugar era apenas meu, mas que eu permiti que alguém tomasse conta dele e fizesse com que fosse do jeito dele. E, portanto, do jeito dele nunca seria, porque não era dele, era meu.
Então eu volto no início e refaço alguns planos e revivo alguns sonhos que já existiam dentro de mim, e que só dependem de mim para serem reais. Eu aprendi que se eu esperar que outra pessoa faça por mim, eles nunca vão acontecer. Por mais que eu ame esse alguém, os meus sonhos sempre vão depender somente de mim para existirem, para continuarem vivos.
Ele tem a chance de criar os dele, sozinho, talvez para lugares que ele sempre quis antes de mim, e nunca levou a sério. E eu tenho os meus que sempre quis antes dele. E que a gente possa, quem sabe um dia, ter a oportunidade de em outro momento da vida cruzarmos o mesmo caminho ou estarmos na mesma direção. Se for pra ser, tudo o que me pertence um dia será meu, ou retornara para mim.